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O Ferro, o Aço e o início da Marvel e da DC nos cinemas


É engraçado notar que os títulos dos dois filmes que iniciam o universo da DC e da Marvel nos cinemas possuem nomes metálicos (curiosidade essa que originou este post) tornando ainda mais visível que ambos bebem da mesma fonte, apesar de seguirem por caminhos diferentes. É válido também notar que “O” primeiro super-herói criado e outro até então desconhecido marcam o início dos universos cinematográficos das duas maiores editoras de quadrinhos do mundo, Marvel e DC.

Antes de adentrar mais no assunto, venho deixar claro que sou fã de ambas as editoras e aprecio os heróis das duas e por incrível que pareça eu vivo bem com isso, feito isso, espero evitar tsunamis de mimimi.

Ressalvas feitas, vamos adiante!

Mas antes voltemos um pouco no tempo, depois de uma crise de proporções épicas a Marvel se viu obrigada a se desfazer de suas principais franquias para outros estúdios no final dos anos 1990. Conseguindo se reerguer na metade dos anos 2000 a Casa das Idéias resolveu se arriscar montando o seu próprio estúdio e utilizar o acervo dos heróis que tinha sobrado sobre suas asas, assim tivemos em 2008, Homem de Ferro, um início modesto, mas extremamente interessante para a Marvel nos cinemas.

Do outro lado, a DC, sobre as asas da Warner nunca teve o seu universo bem explorado nos cinemas, sendo suas adaptações de maior sucesso baseadas em dois medalhões dos quadrinhos, Superman e Batman. O primeiro o precursor das adaptações (de sucesso) da era moderna com o Superman de Christopher Reeve. E o Batman, que nunca saiu de linha, teve o belo de um recomeço com a sua última trilogia feita pelo inoxidável Christopher Nolan.

O FERRO...

Homem de Ferro se mostrou um começo promissor para a Marvel Studios, afinal, quem melhor para controlar super-heróis com décadas de tradição, do que seus responsáveis criativos? Mas isso foi além, garantindo às versões das telas a mesma qualidade dos gibis.

Porém a Marvel foi precavida, ela sabia que não podia arriscar reinventando a roda, mas mostrou hombridade em tentar fazer a roda mais redonda que conseguiria, e isso deu certo. Assim conseguiu definir logo de cara quem era Tony Stark, um bilionário da indústria bélica que não é um herói no sentido convencional da palavra e age visando o reconhecimento, alimentando seu ego e não por altruísmo.

Stark é um vencedor, um cientista, um conquistador e, principalmente, alguém dificílimo de se relacionar. Apresentar alguém com essa personalidade como um herói seria uma tarefa difícil para qualquer ator, mas que se mostra um dos maiores acertos do filme ao trazer novamente ao estrelato o showman também conhecido como Robert Downey Jr. para o papel.

Vindo de uma carreira de altos e baixos, o ator exibe aqui todo o seu vigor e talento se mostrando um titã insaciável em cada momento de cena. Sorte que o restante do elenco é competente, incluindo uma contida e adorável Gwyneth Paltrow, um empolgado Terrence Howard e um sólido, afável e canastrão (não que isso seja ruim) Jeff Bridges.

Mostrando muito bem aonde já queria chegar a Marvel Studios descarrega uma avalanche de referências. Por todo o filme temos um vislumbre do futuro que poderíamos ver, como o Máquina de Combate, o nascimento da S.H.I.E.L.D., e muitos outras que só olhos aguçados de fãs podem pescar, mas que não comprometem o entendimento de quem não é.

O AÇO...

Agora voltemos os olhos para o eterno escoteiro de cueca por cima da calça.

Superman teve uma jornada difícil nas telonas. Depois dos dois primeiros filmes com Christopher Reeve que são aclamados até hoje, as outras duas continuações foram constrangedoras. Tentando mudar isso veio Bryan Singer (o mesmo de X-Men 1 e 2) e fez um incompreendido filme-homenagem (que eu gosto e vou defender futuramente em um post) que desagradou à maioria por não ter, em poucas palavras, PORRADA.

Passado o trauma e satisfeita com o sucesso da trilogia Cavaleiro das Trevas, a Warner Bros. chamou Christopher Nolan para produzir um novo recomeço nas telonas para o primeiro de todos os super-heróis, Nolan aceitou a missão, mas aqui não carregou a película de depressão e obscuridade como fez com Batman, mas deu aquele toque de realismo que sempre o interessou.

Na cadeira do diretor tivemos Zack Snyder, que com competência quis se distanciar do seu próprio estilo emulando vários outros, acertando nisso e nos dando aquilo que faltava. Zack nos deu o “quebra-pau”. Com seus takes mais longos e físicos, privilegiando o (tiro, porrada e bomba) impacto, colocou todo mundo pra brigar, não só Kal-El (Henry Cavill), como até seu pai, Joe-El, que deixa o jaleco de cientista de lado e vai pra voadora.

Mas Homem de Aço não é um filme de heróis comum, basicamente são dois filmes em um, temos cenas com alto teor emotivo seguidas de destruição de níveis colossais nunca antes vistos. Entre uma lágrima e uma explosão, há um filme sobre um homem em busca de sua própria identidade, em uma jornada de autoconhecimento, tendo como bagagem apenas os valores dos pais.

No filme também temos o reforço da comparação clássica a do messias, o ser enviado à Terra para guiar-nos, incompreendido e temido pelas forças vigentes. Nisso vemos mais um pouquinho do dedinho de Nolan e seu interesse pelas implicações filosóficas, sociais e religiosas da descoberta de que não estamos sozinhos no universo.

E não podemos esquecer de falar dele, Henry Cavill, sua interpretação de Clark Kent/Kal-El acerta em se distanciar de Christopher Reeve. Ele é seu próprio Superman, não tem a montanha de carisma de Downey Jr., mas tem convicção, certeza e talento em sua interpretação, sem se esquecer de tirar a camisa para o suspiro das moças. Outro que merece elogios é Michael Shannon, seu General Zod é obcecado e irredutível, apesar de ter suas razões para tal. Os dois seguram o filme, mas o que dá mesmo contorno é o elenco secundário. De um lado, Kevin Costner e Diane Lane. Do outro, Russel Crowe e Ayelet Zurer (Lara), cada um representando um conjunto moral que Superman necessitará para definir seu lugar. Amy Adams (sempre competente), como a jornalista investigativa Lois Lane.

Ao contrário da Marvel a Warner/DC ainda não via certo o seu futuro universo cinematográfico, assim criou um roteiro que funciona, mas que se mostra didático em vários momentos, se preocupando apenas na apresentação do Superman para uma nova geração.

A cena final deixa isso bem claro, mostrando que esse não é Super que conhecemos antes, mas um herói que mudou com o mundo sem se esquecer de seus principais valores. Suas referêcias ao restante do universo DC são bem sutis e bem rápidas, apesar disso O Homem de Aço, consegue entreter e divertir, nos instiga para sua continuação, mas não nos dá a oportunidade de vislumbrar o que pode estar por vir.

O FERRO E O AÇO

Comparando os dois filmes podemos ver que ambos ditaram e (vão ditar) o clima de seus sucessores, com a Marvel temos a carga realística implícita com uma abordagem mais fluída e divertida assumindo de cara sua missão de entreter. Diferente do Homem de aço que tem o mesmo universo realístico, porém mais sisudo e menos otimista. Ambos tem suas qualidades e seus defeitos, o que possibilitam criar uma bem-vinda diferenciação entre os dois universos.

Por mais incerto que fosse o futuro do Homem de Ferro nos cinemas, a Marvel não o lançou sem um planejamento, apesar dele não ter sido visto como o primeiro de um universo que estava por vir, ele conseguiu ter importância como parte e como inteiro.

Já o Homem de aço se mostrou um belo capítulo de apresentação de um grande super-herói, mas que terá um universo criado a volta de sua importância e acontecimentos, ambos mostram as diferenças de cada caminho e as possibilidades que os mesmo mostram (sendo a maioria promissora)…

A Marvel Studios vem acertando a cada ano fazendo apostas arriscadas e sem ter medo de levar o espírito dos quadrinhos ao cinema, talvez esse seja o que a DC precisa, já que ela se mostra pisando em ovos, com medo de outro trauma como foi Lanterna Verde, mas se mostra interessada em replicar o sucesso da concorrência, isso é visto na sua cautela ao jogar o seu próximo lançamento para 2016, evidenciando a sua necessidade de planejamento e acerto.

Seja DC ou Marvel as duas querem o nosso dinheiro (sim, esse é um mundo capitalista), mas é bom saber que elas tem noção de que para nos forçar a quebrar nossos cofrinhos e nos levarem ao cinema precisam nos agradar e fazerem e a lição de casa.

No fim, não interessa se são feitos de FERRO ou AÇO, filmes de super-heróis precisam ser bons.